Helena de Medeiros
Wonderland |
24 Sep 2022 - 24 Oct 2022
Os pássaros que nascem do movimento
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
(Ruy Belo)


Os “pássaros”, com o belo furor do voo ou na sua musicalidade, fazem com que cada pintura de Helena de Medeiros se torne um palco. Olhar para cada um de seus quadros é como sobrevoar um palco de figuras em movimento: estamos diante das metamorfoses contínuas de um voo que, se é movimento liberto para a vida, é também uma forma de expandir os horizontes. O movimento se torna, então, o atrito entre o que se quer célere e a natureza não cinética da superfície da pintura, que estabelece um importante diálogo com o trabalho de costume designer da artista. 

Helena de Medeiros tem trabalhado com as principais companhias de bailado e casas de ópera do mundo. Os seus figurinos podem ser facilmente vistos em espetáculos do prestigiado Bolshoi Ballet, na Rússia, ou do Ballett Basel, uma das principais companhias de bailado da Suíça. Na Alemanha, tem colaborado com companhias de renome como Ballett Dortmund, Staatsoper Hannover e Gauthier Dance/Theaterhaus Stuttgart. Também criou figurinos para as consagradas La Scala e Aterballetto, em Itália, Le Guetteur, em França, e para o Les Grands Ballets Canadiens, no Canadá. Essa extraordinária experiência multicultural de Medeiros faz com que, em sua pintura, a natureza do espaço seja concebida como uma experiência do lugar, como uma paisagem que se abre ao longo de todo o horizonte que vai se tornando visível.

No voo que cada uma de suas pinturas é, os vestígios de várias narrativas se cruzam e acabam por formar uma história contínua, em que os acúmulos de lembranças são entrelaçados aos lugares imaginários que se cria no retorno às recordações. As obras, em conjunto, constroem um corpo em contínua mutação, cuja narrativa é a dos fragmentos assistidos na exaustão, em que tudo se conjuga numa só voz e num só apelo. As pinturas capturam, assim, as várias dimensões da dança e nos convidam a fazer parte dela.

Com elegância e sutileza, Helena de Medeiros vai nos mostrando as faces que lhe constroem, muitas das quais reconhecemos em nós mesmos. Entre o adeus e a contrapartida, os seus seres alados estão sempre voltados para a face da liberdade conquistada, frente ao sopro de vida. Como quem canta a canção da despedida, sabendo que nela permanecerá. 



Texto de Manaíra Aires Athayde



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